sexta-feira, junho 02, 2006

Décima parte de entrevista Inédita (em português) de Tohei sensei

Budo e Artes Performáticas

- O senhor tem comparado o Budo como arte marcial e o Budo como dança. O que as artes marciais e a dança têm em comum? Por que algumas pessoas são fotogênicas de qualquer ângulo?
- Tradicionalmente, no Japão, dança e artes marciais são consideradas uma coisa só. O ideograma é escrito diferente, mas a pronuncia é a mesma, Budo. Um mestre dançarino ou um ator preenchem o palco com a presença do Ki. Ele não olha a platéia, porque ele está completamente envolvido em tornar-se parte. Totalmente envolvido na apresentação ele esquece seu eu ordinário (cotidiano), e a audiência é cativada. Você só pode faze-lo se está com a mente e o corpo unificados. Quando você estende Ki você é fotogênico de qualquer ângulo. Esse é o equivalente visual de não ter qualquer abertura para ataques.

- Qual a diferença entre esportes e artes marciais?
- O mestre chinês Sun Tzu, que escreveu o clássico a Arte da Guerra, Falou de três modos de vencer. O modo inferior é vencer por meio da luta, enquanto o superior é vencer sem lutar. Muitos esportistas tomam o caminho descendente da vitória por meio da luta. Eles dizem que são esportistas, apesar de internamente acreditarem que vencer é mais importante que competir. Alguns artistas marciais praticam as artes marciais como se fossem esporte sem o esportismo (ideal do esporte). O caminho superior da vitória é vencer sem lutar. O real significado do ideograma Bu é “parar a espada”, para vencer abaixe as mãos, sem confronto. Como eu expliquei, essa é uma abordagem que tomamos nas competições de Taigi, e isso pode também funcionar na vida diária. Nós precisamos atentar aos fundamentos, e não praticar apenas pelo espetáculo.

- É preciso alcançar um alto grau no Aikido para poder utilizar o Ki em outros campos como a música, as artes performáticas, ou os negócios? Como o senhor pratica para tornar-se capaz de agir bem mesmo sob pressão?
- Unificar a mente e o corpo funciona no teatro e na dança, e em todas as artes performáticas. As pessoas têm problemas de performance quando elas praticam com uma atitude desleixada, e ainda ssim esperam ter os melhores resultados. Uma vez eu encontrei um mestre de flauta tradicional japonesa, Hyakunosuke Fukuhara, que me pediu para ensina-lo a unificar mente e corpo quando estivesse se apresentando. Eu pedi que ele segurasse a flauta como se eetivesse se apresentando, e quando eu inesperadamente o testei ele perdeu o equilíbrio. Ele me pediu para tentar novamente, e dessa vez ele sinceramente colocou-se no estado mental de uma apresentação no palco, mesmo que nesse momento ele não estivesse segurando uma flauta. Dessa vez ele passou no teste, ficando estável como uma árvore. Ele já sabia como unificar mente e corpo, mas conseguia faze-lo apenas quando estava seriamente focado na prática ou apresentação. Um verdadeiro mestre é alguém que pode faze-lo a qualquer momento. Sua apresentação no palco é realmente um reflexo de sua vida diária. É por isso que eu ensino meus estudantes a tratarem a espada de madeira como se ela fosse uma verdadeira espada, muito afiada. Se você pratica desse modo, enquanto quando o oponente utilizar uma espada real, você estará habilitado a encara-lo com calma como se fosse uma espada de madeira.

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