terça-feira, maio 30, 2006

Primeira parte de entrevista Inédita (em português) de Tohei sensei

William Reed conduziu a seguinte entrevista com Koichi Tohei sensei, com a participação de seu filho e sucessor Shinichi Tohei (Waka Sensei), em 19 de maio de 2000. A entrevista foi feita em japonês e traduzida para o inglês por William Reed, com a aprovação de Tohei Sensei. TRadução em português de Wilson Hideki Sagae.

Seu livro "Ki no Kakuritsu" é uma biografia pessoal contando o que o senhor aprendeu de seus 3 principais professores. O que o senhor ensina na KI Society atualmente vêem do que foi aprendido, mas é diferente do que seus professores ensinavam. O que foi a coisa mais importante que o senhor aprendeu de cada um deles, e como o senhor os coloca dentro de uma nova constelação?
Meu primeiro professor foi Tetsuju Ogura, um estudante de espada do período Meiji, seguidor do mestre Tesshu Yamaoka. O treinamento envolvia um treinamento rigoroso de Misogi -respiração e cantos, assim como longas horas de meditação Zen. Tesshu foi um homem cuja vida inteira foi baseada na idéia de que uma vez que você decida aprender algo, você deve testar esse conhecimento em ação. Testar cada teoria por meio da experiência, e por meio da experiência você aprende a absorver o que é bom e rejeitar o que é ruim. Todas as coisas que eu ensino atualmente foram desenvolvidas a partir de provas experimentais, minhas ou de meus alunos.
Eu estudei Aikido com Morihei Ueshiba, uma vez mais fazendo tudo e questionando depois. Ueshiba sensei foi um grande mestre de Ki, tanto quanto o fundador do Aikido. Ele também foi um devotado seguidor da religião Omotô, e isso influenciou o modo como ele ensinou o Aikido. Muitas vezes era impossível entender suas explanações esotéricas. Eu treinei rogorosamente em todos os exercício que ele nos propunha, apesar de muitos virem da religião Omoto, e não fazerem sentido para nós. Por exemplo: era esperado que nós recitássemos o alfabeto em uma ordem diferente. Ao invés de dizer as vogais do japonês "AIUEO" era mandado que nós as repetíssemos "AOUEI", como se essa nova sequencia tivesse um profundo significado. Ele nos dizia que nós deíamos nos tornar um com o Ki do céu, mas não como nós deveríamos fazer isso. Você podia aprender muito mais observando-o fazer Aikido do que ouvindo suas explanações a respeito. A coisa mais essencial que eu aprendi de Ueshiba sensei foi como relaxar. Ele estava sempre relaxado frente aos conflitos, e esse é o motivo porque o Aikido é tão forte. Ele podia fazer desse modo, mas ele encorajava seus jovens alunos e segurá-lo o mais forte possível. No Aikido, se você não está relaxado, você não pode arremessar as pessoas. Parecia-nos um mistério que Ueshiba sensei podia nos arremessar, podia sempre escapar de nossas pegadas. Ele podia liderar nosso seu Ki, e podia sempre arremessar seu oponente na direção que ele estava originalmente indo. Eu comecei a progredir rapidamente depois que eu comecei a copiar esse modo de agir e prestar menos atenção no que ele dizia. Eu acabei mantendo algo perto de 30% das técnicas que aprendo de Ueshiba sensei, mudando ou abandonando o resto. O que eu realmente aprendi dele não foram as técnicas, mas a verdade secreta do Aikido: não conflito; não resistir à força do oponente mas usá-la.
Depois da I Grande Guerra eu estudei com Tempu Nakamura, um bem conhecido mestre de Yoga e psicologista que ensinava que a mente lidera o corpo. Eu vi isso acontecer na frente de batalha. Quando estávamos sob fogo ninguém reclamava de problemas de estômago, mas uma vez que alcançávamos local seguro as pessoas começavam a distrair-se e começavam a adoecer. O estado mental de sentir-se seguro pode levar ao adoecimento. Nakamura sensei ensinou que a mente move o corpo ajudando-me a entender o princípio essencial do Aikido, e por esse motivo é que eu chamei minha forma de arte de Aikido com Mente e Corpo Coordenados (Shin Shin Toitsu Aikido), agora popularmente conhecido no ocidente como Ki-Aikidô. Eu diligentemente experimentei tudo o que Nakamura sensei me ensinou. Como resultado, da experiência que eu aprendi que algumas coisas funcionam e outras não. Uma técnica que não funciona é a técnica de meditação que ele ensinava, vinda do Yoga, chamada Kumbahaka. Ela envolve tensionar o ânus, pondo força no baixo abdômen, amaciando o plexo solar, deixando os ombros caírem, mantendo as orelhas alinhadas com os ombros e mantendo os lábios pressionados contra os dentes. Esse era um modo exagerado e estranho modo de tentar explicar como seria a postura natural. Nakamura sensei, ele mesmo, não fazia isso, mas esse era o modo como ele explicava. Muitos métodos orientais antigos usam expressões exageradas para explicar o estado natural original, e acabam produzindo resultados completamente errados. Mas eu testei a fundo para aprender da experiência. Eu descobri que se eu fizesse Kumbahaka enquanto estivesse plantando eu desenvolveria dores nas costas, se eu fizesse enquanto estivesse caminhando eu ficaria exausto, e se eu fizesse enquanto praticava Aikido nenhuma das técnicas funcionavam. A coisa mais importante é "como fazer", não o que dizer. Seguin do os princípios naturais, e fazendo como Nakamura sensei fazia, não como ele ensinava, eu aprendi como fazer as coisas corretamente e de modo consistente. Ele ficou sabendo disso e me perguntou o que eu estava fazendo. Eu disse a ele que eu estava fazendo Kumbahaka. Ele soube disso e procuroiu saber como eu estava fazendo. Eu mostrei a ele que todas as vezes que seus estudantes antigos eram facilmente empurrados era por causa da tensão criada em seus corpos por tentarem seguir aquelas instruções complicadas. Em seus últimos anos ele mudou o modo de explicar, mas depois que ele morreu seus estudantes voltaram às velhas explicações, agora não estão melhor do que eram então.

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