terça-feira, maio 30, 2006

Conflitos comuns em um Dojô

Conflitos comuns em um Dojô
Aikido Today Magazine #97

(pergunta)
“Estou treinando em um bom dojo com várias pessoas divertidas, e eu adoro o aikido. Mas tenho problemas com um praticante em particular. Ele é da Europa, mas fala um bom inglês e sinto que não temos problemas de comunicação. Contudo, ele insiste em seguir na sua velocidade, que é avançada. Eu sou iniciante e ele acabou por me machucar por diversas vezes. Estou pronto para desistir porque já não dá mais para tirar licenças médicas no trabalho para me recuperar. Alguma sugestão?
Sinceramente, disgusted”

(resposta)
As boas notícias para Disgusted é que ele descobriu uma arte marcial maravilhosa. Ao longo do tempo irá permitir a ele que refine seu corpo. Também irá permitir que ele aprenda mais sobre os pontos fortes e fracos de sua personalidade e a trabalhar nela à medida que progredir em suas habilidades técnicas.
O enfoque da psicologia do Aikido vem de uma filosofia bastante sofisticada, a qual é baseada na premissa que somos todos partes de “uma só coisa”. Essa filosofia ensina que aprender a aceitar uma energia negativa e a redirecioná-la pode mudar nossas vidas e as de quem nos ataca. Há inúmeras estórias nas quais O'Sensei fez exatamente isso. (Se Disgusted ainda não tiver lido a biografia de O'Sensei ou uma descrição de sua filosofia, é aconselhável que o faça).
Apesar de nem todos os dojos falem explicitamente sobre a dinâmica de se unir com a agressão, essa idéia está implícita em todos os movimentos do Aikido. O pensamento é, “Receba a agressão e permita que a energia do ataca volte para o atacante”.
No Aikido aprendemos a aceitar a energia agressiva de um ataque e tomas decisões iluminadas sobre o que fazer com essa energia. As defesas do Aikido foram planejadas para que não nos machuquemos. Se formos atacados em um estacionamento, é claro que preferimos que os nossos atacantes acabem no chão ao invés de nós. Por essa razão a polícia aprende técnicas de imobilização do Aikido, assim podem controlar os agressores sem ter que machucá-los.
O objetivo da prática é nos permitir experimentar ataques em um ambiente seguro e controlado. O uke ataca e o nage responde com várias defesas.
O Aikido é único como arte marcial por ser puramente defensiva; sua intenção é nos manter seguros ao invés de nos mostrar como “arrebentar” os outros. Como resultado, estamos sempre com o foco no que nossa própria energia está fazendo e, ao mesmo tempo, aprendendo a lidar com a energia que nos está sendo direcionado de outras fontes(nesse caso, o parceiro ou “atacante”). Fazer essas duas coisas ao mesmo tempo é exigir muito, principalmente dos iniciantes. Nós possivelmente estaremos tão ocupados em saber “aonde colocar o pé” que teremos muito pouco espaço mental para pensar sobre “o que o outro cara está fazendo”. Essa é uma das razões pelas quais os iniciantes se machucam mais. Afinal de contas os iniciantes estão aprendendo uma habilidade altamente física totalmente nova – habilidade essa que envolve se arremessar em um tatame, rolar de cabeça para baixo e descobrir como relaxar quando alguém os estiver atirando no chão.
Quanto mais resistimos a uma projeção, maior é a possibilidade de nos machucarmos. Mas um iniciante pode não estar consciente de que ele ou ela não estão relaxando durante a técnica. Por exemplo, muitos iniciantes irão tentar fugir de um Nikyo – um movimento que que faz com que eles estiquem seus braços, deixando seus cotovelos particularmente vulneráveis a um machucado. Pode não ser a intenção do nage machucar o uke, mas às vezes o uke pode acabar se machucando de qualquer maneira.
Bom, parece que os problemas do Disgusted nas aulas é com uma pessoa em particular.
Quando pensando sobre essa pessoa, Disgusted deve perguntar a si mesmo, “Essa pessoa treina diferente comigo em relação aos outros alunos?”
Se a resposta for “Sim”, provavelmente há um conflito de personalidades entre o Disgusted e essa pessoa que precisa ser avaliado. Nesse caso, Disgusted deve conversar com o seu parceiro em particular e perguntar a ele o que está acontecendo. Pode ser que o parceiro seja um “valentão de armário”, e trazer o conflito à luz pode ser o bastante para resolver o problema.
Por outro lado, pode ser apenas que o parceiro esteja treinando da forma como treinava em seu dojo original. Diferentes dojos têm diferentes ambientes no treino.
Se o parceiro problemático treina da mesma forma com outras pessoas além do Disgusted, isso pode ser apenas a maneira dele de ser. Nesse caso, Disgusted precisa aprender a garantir a sua segurança.
Apesar de ser tarefa do instrutor garantir que as aulas sejam seguras, nenhum professor consegue observar todas as interações. Será que o professor do Disgusted sabe que ele está sendo repetidamente lesionado pela mesma pessoa? Se Disgusted não ficar satisfeito após conversar diretamente com seu parceiro, ele deve considerar levar suas preocupações para o professor.
Apesar do Disgusted parece estar tendo problemas com um aluno que é mais avançado que ele, essa não é a regra. Na maioria dos dojos é responsabilidade dos alunso mais antigos adaptar a sua prática ao nível dos seus parceiros. Essa é uma das razões por que pode ser divertido treinar com parceiros que têm muitos anos de prática: parceiros habilidosos podem treinar com iniciantes no nível mais alto da habilidade dos iniciantes sem sacrificar a segurança.

Elizabeth Hendricks é doutora em psicologia clínica e faixa preta de Aikido.

A tradução original está no blog Multiply
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