quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Takuan Soho segundo Heugen Herrigel em "Zen e a arte do tiro com arco"

"Entre os mestres da espada dá-se como provado, com base em esperiências instrutivas, realizadas consigo próprios e com os seus alunos: que o principiante, por muito forte e combativo que seja, por mais corajoso e valente que seja em casa , se vê, com o começo das aulas, privado da anterior autoconfiança e despreocupação. Ele aprende agora todas as possibilidades técnicas de arriscar a vida, num combate com espada, e embora esteja, muito em breve em condições de levar ao extremo a sua atenção, de observar de forma penetrante o adversário, aparar os golpes segundo as regras da arte e atacar com eficácia, ainda estará pior do que antes, quando ainda golpeava ao acaso, meio a sério, meio a brincar, conforme o momento e o entusiasmo da luta. Por esta altura ele tem de reconhecer que cada vez que defrontar um adversário mais forte, ágil e preparado estará em inferioridade, exposto aos seus golpes certeiros. Não vê outro caminho, que não seja o treino incansável e tão pouco o seu mestre, de momento, aconselha outra coisa. Assim o discípulo investe todos os seus esforços para superar os outros, e até a si próprio. Adquire uma técnica impressionante que lhe devolve alguma da autoconfiança perdida e sente-se cada vez mais perto do objectivo ambicionado. O mestre encara isso noutros termos - e com razão, assegura-nos Takuan, pois toda a capacidade técnica do aprendiz leva apenas a que o "o seu coração não seja levado pela espada". As primeiras lições não podem, portanto, ser dadas de outra forma, uma vez que são feitas à medida do principiante. Contuto não o conduzem à meta, como bem sabe o mestre. O aprendiz apesar de toda a dedicação e talento inato, não se torna inevitavelmente num mestre. Como é possivel que ele, depois de aprender a não se deixar levar pela excitação do combate, mantendo o sangue-frio, ele, que sabe dosear cautelosamente a força física e se sente preparado para um comabte de longa duração, não encontra já facilmente adversários à altura, como é possivel, ainda assim, que ele confrontado com uma situação extrema, falhe e se veja paralisado? Segundo Takuan, isso explica-se porque o aluno não consegue deixar de observar com apreensão o adversário, e aforma como este maneja a espada; porque raciocina sobre a forma mais eficar de o atacar, aguardando o momento em que ele se expõe. Resumindo, explica-se porque o aprendiz recorre a toda a sua arte e ciência. Enquanto o fizer, deita a perder toda a "presença de coração", diz Takuan: dá sempre tarde de mais o golpe decisivo, e não consegue por isso que a espada dependa do uso consciente da técnica, da experiencia de combate de da táctica, mais vai inibir a livre mobilidade no "agir do coração". Como se poderá corrigir isto? Como é que a capacidade técnica se torna espiritual e como pode a mestria magistral da espada libertar-se do domínio tirano da técnica? A resposta é: unicamente se o discípulo se libertar da intenção e do Eu. Ele deve ser levado a libertar-se, não só do adversário, mas também de si mesmo. Tem de percorrer o estádio em que se encotra, deve chegar e deixá-lo definitivamente para trás de si, correndo o risco de fracassar completamente. E isso não parecerá tão contraditório, como quando é exigido no tiro com arco acertar no alvo sem ter feito pontaria, e perder de vista o alvo, e a intenção de acertar? Entretanto é preciso lembrar que a mestria da espada, cuja essência Takuan descreve, foi provada de mil maneiras, justamente em combate, não o caminho em si, mas o acesso a esse caminho que conduz ao objectivo ultimo, tendo em conta as características de cada um. Em primeiro lugar, ensiná-lo a esquivar-se dos golpes instintivamente, mesmo quando são inesperados. D. T. Suzuki retratou num incidente delicioso o método perfeitamente original utilizado por um mestre para cumprir essa tarefa, que não é nada fácil. É como se o discípulo devesse atingir um novo sentido, ou melhor, uma nova atenção de todos os seus sentidos, que o torna capaz de se esquivar aos golpes ameaçadores, como se os tivesse pressentido. Uma vez que domine esta arte de esquivar-se, ele já não terá necessidade de observar com toda a atenção os movimentos de um, ou mesmo mais adversários ao mesmo temo. No momento em que vê e pressente o que está para acontece, já terá anulado instintivamente os seus efeitos, sem que, entre a percepção e o acto de esquivar-se, haja lugar para a "espessura de um cabelo". O que importa é chegarmos ao ponto em que esta reacção imediata, rápida como um raio, já não precisa da obsevação consciente. E assim o discipulo ter-se-á libertado, ao menos neste sentido, de toda a previsão consciente. E já terá ganho muito com isso.
O discípulo entende essas instruções - como não poderia deixar de ser - como se bastasse renunciar à observação, reflexão e a tudo o que se relaciona com o comportamento do adversário. Ele leva muito a sério esta abstenção e controla-se a cada passo, mas ao proceder assim espaca-lhe o facto de, ao concentrar-se em si mesmo, não poder ver-se senão como o lutador que deve abster-se de observar o adversário. Por conseguinte, por boas intenções que tenha, continua a tê-lo secretamente debaixo de olho. Só aparentemente se libertou dele, pois na relaidade ficou ainda mais ligado. Convencer o aluno de que não ganhou nada com esta transferência da atenção exige muito da arte subtil de orientar almas. Tem de aprender que é tão decisivo desprender-se do adversário, como desprender-se de si mesmo, e com isso chegar, num sentido radical, à não intenção. Para isso é necessário muito treino paciente e resignado, tal com no tiro com arco. Mas se estes treinos conduzirem ao objectivo o último resquicio de intenção - o empenho do "eu" - desaparecerá com a não-intenção atingida.
Neste estado de desprendimento a ausência de intenção surge uma atitude que tem semelhanças supreendentes com a capacidade instintiva de se esquivar. Do mesmo modo que não havia uma espessura de um cabelo entre o vislumbrar o golpe e esquivar-se, também entre esquivar-se e atacar sucederá, daqui em diante, o mesmo. No momento em que evita o golpe, o combatente levanta já o braço para atacar, e antes que disso se aperceba, já o golpe mortal e certeiro foi desferido. É como se a espada de manejasse a si própria, e da mesma maneira que para o tiro com arco se diz que algo aponta e algo acerta, também aqui esse algo ocupou o lugar do Eu, servindo capacidades e realizações de que o Eu se apropriou num esforço consciente. E também aqui esse algo é apenas um nome para qualquer coisa que não se pode compreender nem alcançar, e que só se revela a quem o experimentou.
Segundo Takuan, a perfeição da arte da espada consiste em que nenhum pensamento afecte o coração, quer seja acerca do "eu", do "tu", acerca do adversário e da sua espada, da espada própria e do modo de a manejar, ou mesmo acerca da vida e da morte. "Assim, tudo é vazio: tu, a espada desembainhada e os braços que a manejam. A própria ideia do vazio não está lá. Desse vazio absoluto nasce o desdobramento extraordinário de o fazer."
O que é válido para o tiro com arco e para a arte da espada aplica-se, neste ponto, a todas as outras artes. A mestria em pintura a tinta-da-china(para dar outro exemplo) manifesta-se precisamente nisso, que a mão que domina incondicionalmente a técnica execute e revele o pressentido, no exacto momento em que este toma forma no espírito, sem que haja, entre uma coisa e outra, a espessura de um cabelo. A pintura torna-se uma escrita automática. Também neste caso as indicações dadas aos pintores poderiam ser simplesmente observa bambus durante dez anos, converte-te tu próprio num bambu, a seguir esquece tudo e - pinta.
O mestre da espada volta a ser natural como o principiante. Por fim reconquista a despreocupação que tinha perdido no início do aprendizado, agora sob a forma de traço impertubável de carácter. No entanto, ao contrário do principiante, o mestre é reservado, sereno e modesto, sem qualquer vontade de se gabar. Entre os dois estádios, da iniciação e da mestria estendem-se anos longos e férteis de treino incansável. A capacidade técnica tornou-se espiritual através da influencia do Zen e o praticante transformou-se, vencendo-se interiormente e ficando cada vez mais livre de etapa para etapa. Já não lança mão da espada tão facilmente, só a desembainha quando é inevitável, pois a espada transformou-se na sua alma. Por isso pode acontecer que ele evite o combate com um adversário indigno e grosseiro, que se vangloria do seu feixe de músculos, aceitando dele um sorriso que o acusa de cobardia. Por outro lado, movido por um grande respeito pelo adversário, pode entrar num combate que só poderá levar este último a uma morte honrada. Vislumbramos aqui os sentimentos que estã na base da ética do Samurai, o incomparável "caminho do cavaleiro" também chamado de Bushido. Assim, para o mestre, a "espada da verdade", que ele conhece e que o orienta, está acima de tudo o resto: acima da fama, da vitória e mesmo da vida.
O mestre, tal como o principiante, não conhece o medo, mas ao contrário deste torna-se de dia para dia mais imune ao temor. Ao longo de anos de constante meditação ele descobriu que, no fundo, vida e morte são uma e a mesma coisa, e pertencem ao mesmo plano de destino. Por isso já não distingue a angústia da vida e o medo da morte. Ele tem prazer em viver neste mundo - o que é muito característico do espírito Zen - mas em qualquer altura está preparado para separar-se dele, sem se deixar perturbar pela ideia da morte. Não é por acaso que o símbolo mais puro do espírito do Samurai é a frágil flor de cerejeira. Tal como a pétala tocada pelo raio de sol matinal se desprende e desliza para a terra, cintilando graciosamente, também aquele que não sente medo deve conseguir desprender-se da existência, silencioso e interiormente impassível.
Viver sem medo da morte não significa crer que não se irá tremer diante dela, nas horas felizes, nem significa que se irá vencer a prova. Quem domina a vida e a morte, está mais livre do medo, em todas as suas formas, na medida em que já não é capaz de reviver essa sensação. Quem não conhece por experiência própria o poder da meditação séria e continuada, não pode avaliar as vitórias que ela torna possíveis. Seja como for, o mestre perfeito revela a cada passo a ausência de medo, não através de palavras, mas da sua conduta: olha-se para ele e fica-se profundamente tocado por isso. A inabalável ausência de medo é já para si a mestria, que apenas alguns, como não poderia deixar de ser, atingem verdadeiramente. E para ilustrar o que acabo de dizer transcreverei na íntegra uma passagem do Hagakura, que remonta aos meados do século XVII: "Yagyu Tajima-no-kami era um mestre da espada e instruía nesta arte o Shogun Yokugawa Jyemitsu. Certo dia, um dos guardas do Shogun foi ter com Tajima-no-kami e pediu-lhe para frequentar as aulas de combate com espada. O mestre disse: "Tanto quanto vejo, o senhor parece já ser um mestre da espada. Diga-me, por favor, a que escola pertence, antes de entrarmos na relação professor/aluno."
O Guarda disse: "Para minha vergonha devo confessar que nunca aprendi esta arte."
"Está a fazer pouco de mim? Sou o Professor do venerável Shogun e sei que os meus olhos não enganam."
"Lamento ofendê-lo na sua honra, mas na verdade não tenho quaisquer conhecimentos." Esta resposta tão segura deixou o mestre pensativo, que por fim disse: "Se o senhor o afirma, assim deve ser. Mas será com certeza mestre noutra arte, embora eu não esteja a ver qual."
"Bom, uma vez que insiste, digo-lhe que há uma coisa, na qual me posso considerar mestre. Quando era ainda um rapazinho, ocorreu-me a ideia que um Samurai não deve de forma alguma temer a morte, e desde essa altura - já lá vão alguns anos - passei a ocupar-me com a questão da morte, até que por fim ela deixou de me incomodar. Era talvez a isto que queria chegar?"
"Precisamente - exclamou Tajima-no-kami - era a isso que me referia! Alegra-me verificar que não me enganei. O último segredo da arte da espada consiste em libertar-se da idea de morte. Instruí muitas centenas de discípulos, tendo em vista esse objectivo, mas até agora nenhum deles atingiu o grau máximo da arte da espada. O senhor não precisa de mais treino técnico, pois já é mestre."
O pavilhão de treino, onde se aprende a arte da espada, chama-se, desde os tempos mais remotos: Lugar da Iluminação"

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Entrevista MIkhail Ryabko

A seguinte entrevista foi conduzida em Toronto, Ontário em 19 maio de 2003. Presentes estavam Mikhail Ryabko, Valerie Vasiliev que serviu como o intérprete, James Williams, Scott Meredith, e o editor do Aikido Jornal Stanley Pranin. As partes grandes dos textos foram transcritas e traduzidas por Pavel Rott do russo para o Inglês.

Stanley Pranin: Muito obrigado por sair da festa e passar seu tempo nesta conversa conosco. É um prazer maravilhoso poder encontrar-se com você. Eu penso ainda mais agora que o Systema está começando ter uma influência grande no mundo das artes marcial. Naturalmente, as pessoas estão muito interessadas nas origens da arte. Porque a maioria das artes marciais, que são populares vieram da Ásia, as pessoas são surpreendidas ao ouvir que esta é uma arte marcial russa. Eu gostaria de compreender um pouco mais sobre como o Systema, isto é, predecessor da arte, foi transmitido de suas raízes na cultura da Rússia.

Mikhail Ryabko
Mikhail Ryabko: Eu fui um bocado surpreendido que as pessoas nunca ouviram sobre as artes marcial russas e que estão surpresos em ouvir que existem. Olhe o território enorme que a Rússia ocupa. Alguém teve que proteger este território. Na Rússia havia sempre os guerreiros que eram conhecidos pela sua bravura. E se você olhasse o desenvolvimento da Rússia nos tempos remotos, as cidades foram construídas perto de rios e dos monastérios que eram as origens dos primeiros estabelecimentos. Não havia nenhuma estrada, assim as pessoas viajavam pelo rio nos barcos no verão e nos trenós no inverno. Toda a infra-estrutura dos primeiros estabelecimentos veio dos monastérios. Eles forneceram os meios de subsistência para as comunidades. Todas as funções da vida foram centradas neles. As crônicas foram gravadas nos monastérios e a ciência e a medicina também. Se os estabelecimentos devessem ser protegidos, os monastérios foram esses que forneceram a proteção. As armas e as armaduras foram feitas nos monastérios. As polícias e as prisões foram situadas também nestas muralhas dos monastérios. A entrega de correio foi assegurada por monastérios também. Eram como mini Estados.
E isto durou na Rússia por muitos séculos. Passaram apenas mil anos desde o tempo que a Rússia entrou no cristianismo, mas antes disso a nação existia. Mesmo agora nós podemos encontrar um monastério chamado "Otoroch" (que em russo significa"um macho novo"). Acomoda as crianças que não têm nenhum lugar para viver. As crianças órfãs foram trazidas para os monastérios e ensinadas a bíblia. Alguns foram ensinados para defender o monastério porque não todos se transformam em um monge. Algumas das crianças que foram trazidas para os monastérios remanesceram lá como monges e algumas protegeram o lugar. Não era o número de pessoas que forneceram tal proteção eficaz, era a qualidade do treinamento que tiveram. Eram sempre bem equipados e vestidos. Foram vestidos e alimentados dentro do monastério, e eram pagos salários. Não havia muitos guerreiros protegendo mesmo os membros elevados da sociedade. Por exemplo, um Conde podia ter seis guarda-costas para protegê-lo, ou um extremamente rico podia ter trinta.
Certamente tradições guerreiras existiram. Havia muitas guerras, naturalmente, incluindo algumas guerras civis. Algumas guerras eram guerras cristãs que envolvem a fé ortodoxa russa. Aqueles guerreiros lutariam por anos e anos defendendo sua terra natal e voltariam aos monastérios para rezar pelos pecados que cometeram durante o tempo de guerra e terminavam suas vidas nos monastérios. Assim este é um cenário típico e de onde as tradições marciais vêm. Naturalmente, quando a Revolução Russa ocorreu foi muito cruel e muitos daqueles monastérios sofreram realmente. Os monges foram mortos. Suas bibliotecas foram eliminadas. O comunismo é uma forma de religião também, mas que eliminou todas as religiões restantes.
Para falar um pouco mais sobre guerreiros, os Imperadores na China e no Japão tiveram os guarda-costas russos em torno deles por aproximadamente seiscentos anos. Muitos mestres das artes marciais chineses disseram que aprenderam suas artes dos guarda-costas do Imperador, mas não mencionam, quem aqueles guarda-costas eram.
Você pode ver muitos dos imigrantes da União Soviética, que ensinam agora várias artes marciais no exterior. Algumas artes ensinadas de combate corpo a corpo na América após a Revolução de 1917. Hoje, há uma abundância de russos que servem em exércitos diferentes, por exemplo, na Legião Estrangeira francês.
Algumas pessoas não podem gostar de ouvir tais coisas e haverá muitos argumentos sobre estes pontos. Você compreende, por que? Eu direi a verdade, naturalmente, mas eu tenho dito estas coisas um número de vezes nas entrevistas, mas geralmente não imprimem. As pessoas preferem freqüentemente escutar mentiras pois é melhor que a verdade. Às vezes muito dinheiro estão envolvidos.
Se você der uma boa olhada, a Rússia compartilha fronteira com muitos países e sempre teve a influência. Um exemplo de um guerreiro russo que ninguém fala é o Ermak *. teve um exército de apenas 200 espadachins e derrotou um exército dos mongóis de cinco mil homens na Sibéria. Foi ele quem libertou a Sibéria.
* Yermak ou Ermak, faleceu em 1584?, Conquistador russo da Sibéria; seu nome ocorre também como Yermak Timofeyevich. O líder de um grupo de cossacos russos independentes, Iniciou sua carreira pilhando os navios do czar no Volga e incorporou-se mais tarde a serviço de uma família mercante, os Stroganovs. Enviaram Yermak em uma expedição para proteger suas terras na Sibéria ocidental do ataque por tribos locais. Avançando em barcos no rio, Yermak e seu grupo cruzaram os Urais e com força superior de armas de fogo conquistou (1582) a capital dos Tártaros Khanate de Sibir; colocou o território conquistado sob a proteção do czar Ivan IV e pediu-lhe ajuda. Yermak foi morto em um encontro com os Tártaros, e suas tropas foram forçadas a recuar. Entretanto, as tropas russas retomaram o território em 1586.
Nós perdemos muito durante a Revolução. Tentaram eliminar as raízes do povo. E isso é porque nada foi feito fora da Rússia após isso. Você pode falar muito sobre isto. Há muitos exemplos. Há santos guerreiros da Rússia e seus restos não se deterioram e ainda está lá em Kiev e em Kiev-Pechersk- Lavra, por exemplo. Seu restos estão lá desde o século 12.
JW: Eu tenho uma pergunta. Qual era o nome do monastério que os monges defenderam... onde havia 100 monges para defender o monastério, no século 12?
MR: Aquele é o monastério de Troitsko-Sergieva Lavra. * Você foi lá. Há sempre cem monges lá mesmo agora. Os guerreiros poloneses tentaram conquistá-lo por dois anos. Os exércitos des milhares atacaram-no mas não puderam derrota-los. Foi por volta do século 14, não me recordo o certo exatamente.
* Monasterio de Troitsko-Sergieva Lavra: Uma das vistas mais mágicas na Rússia é o monasterio de Troitsko-Sergieva Lavra (a Trindade - Santo Sergius Lavra. As abóbadas de cebola de ouro e no azul brilhante com estrelas de ouro vêm a vista da última ascensão na estrada de Moscou. O monastério é um dos locais mais importantes da peregrinação na Rússia e um de somente quatro na igreja ortodoxa russa a ter o honorífico "Lavra." É parte do anel dourado, um grupo das cidades russas antigas ao nordeste de Moscou que são, de fato, museus a céu aberto. O complexo do monastério, iniciado em 1340 por St. Sergius de Radonezh (o maior santo da igreja ortodoxa russa), compreende as igrejas, as catedrais e os edifícios monásticos que estão mais uma vez em uso. Troitsky Sobor (catedral da Trindade) é uma das igrejas mais antigas e mais finas (1422-23) e com ícones pintados por Rublyov, que é agora e possível vê-los na galeria de Tretyakov. O monastério está a 80 quilômetros (50 milhas) ao norte de Moscou.
SP: Você estudou esta área de Historia ? Você parece ter muito conhecimento.
MR: Eu estudei um pouco, não em grande detalhe, mas eu estava interessado. A informação vem naturalmente quando as pessoas estão interessadas. Alguém poderia fazer uma pesquisa mais completa e há naturalmente toneladas da informação.
VV: Ele mesmo viajou para muitos destes monastérios. Este é seu tipo favorito de viagem, aos locais santos.
SP: Você falaria um pouco sobre a Revolução e quando o governo tomou o controle das técnicas marciais que eram ensinadas? Que aconteceu durante esse período?

Ryabko com a intérprete Valerie Vasiliev
MR: Aqueles que tiveram este conhecimento, naturalmente, estavam ainda lá. Os comunistas tentaram fazer a parte religiosa ficar fora disto. Aqueles que protegem o país não se importam com quem governa. A igreja ora para cada alma. Durante a segunda guerra mundial, foram também guerrear e lutaram da melhor maneira que poderiam.
SP: Quando Mikhail começou primeiramente a receber o treinamento quando criança, foram ensinadas apenas as habilidades físicas ou recebeu o treinamento no significado religioso da arte também?
VV: Mikhail catequizado quando criança mas não foi introduzido às matérias religiosas. Era um período em que a religião era realmente negada e as crianças eram geralmente catequizadas em segredo. Acreditava em Deus mas veio compreender mais tarde mais sobre a religião.
SP: Foi ensinado de forma particular ou como parte de um grupo?
VV: Seu pai e seu avô ensinaram-no.
JW: Você continuou a treinar por completo nas técnicas físicas na sua adolescência ou você começou a fazer mais tarde o treinamento psíquico?
MR: Os dois vão em conjunto. Todos os exercícios têm aspectos físicos e psicológicos e vai muito além. Você deve compreender que se uma pessoa começar apenas a levantar pesos é um desperdício de tempo. Se uma pessoa trabalhar duramente para ganhar sua vida então o trabalho está justificado.
SP: Quando você começou a ensinar o sistema fora das forças armadas?
MR: Eu tenho ensinado por toda a minha carreira militar. Eu não a anunciei nem fiz propaganda. Eu treinei as pessoas em silencio nos grupos e como indivíduos. Acontece assim, que as pessoas me encontraram sempre de um jeito ou de outro. Vieram sempre e perguntas são feitas. Se as pessoas pedirem, você dá-lhe a... tanto quanto podem tolerar! (risos) bem, Vladimir veio então ao Canadá, começando ensinar, e por muito tempo eu não lhe dei minha permissão para nomear-me como seu instrutor.
SP: Quando você se aposentou do serviço militar?
MR: Quando a situação na Rússia estava mudada e já não tinha muitas limitações.
SP: Você falaria como vocês se encontraram primeiramente com Vladimir e a promessa que você viu nele como um estudante?
MR: Vladimir é pessoa muito interessante. Mesmo quando veio tinha algo nele. A primeira vez que veio tinha a idéia de me derrotar!
SP: Recorda desse dia claramente?
VV: Eu acho que era assim! Disse-me que na maioria dos primeiros anos de treinamento que tentava sempre travar Mikhail em momentos desprevenido, tentou sempre testá-lo e encontrar uma maneira derrotá-lo.
SP: Era Vladimir receptivo aos aspectos religiosos e filosóficos de treinar após algum tempo?
VV: Sim, mas ele não catequizado ainda quando se encontrou primeiramente com Mikhail. Batizou-se muito mais tarde em Israel.
SP: Eu recentemente tenho vindo compreender que pessoas chamam normalmente de "cortesia" ou "bondade" não é simplesmente uma questão moral mas pode também ser visto em um sentido tático. Ter estes comportamentos é uma maneira eficaz viver vida.
MR: Qualquer atitude de vida e das artes marcial que não destrói corpo, alma, família ou nação de uma pessoa são um propósito correto.
SP: Quando eu comecei primeiramente a compreender mais sobre o Systema, naturalmente, eu fui muito impressionado pelas habilidades que você demostrava, mas por comentários de James' sobre seu caráter, Mikhail, e de Vladimir, foram muito importantes para mim. Nesse sentido, eu vi coisas na em comum com o aikido como o ênfase no sistema ético e no sistema marcial.
MR: Este é o que faz similar ao sistema russo, o correto propósito.
SP: Eu mesmo não sei a resposta mas eu penso que o potencial para a influência do Systema nas artes marciais em general e então na sociedade como um todo é muito grande. Você freqüentemente pensa em termos do potencial do Systema influenciar a sociedade?

O editor Stanley Pranin posa para pergunta
MR: Eu não fiz como um objetivo principal conseguir tais resultados no mundo. Mas eu gostaria realmente de ter as pessoas que fazem outras artes marciais compreendam o que estão fazendo e onde estão indo. O que muitas artes marciais provocam nas pessoas é orgulho, ego, crueldade, e agressão. O mundo não é muito amável. Destrói a alma de uma pessoa.
O orgulho destrói a pessoa. Quaisquer coisas que destrói a alma de uma pessoa não são boas. As emoções negativas não estão corretas. Olhe a biomecânica de outras artes marciais. Algumas destroem o corpo de uma pessoa. Se você der constantemente batidas de encontro aos objetos duros você destrói suas articulações. Você ira adquirir artrite. Este tipo de treinamento destrói o corpo de uma pessoa. Tem dor constante em suas articulações. Se uma pessoa estiver irritada e nervosa não é nenhum pouco bom para sua família ou país.
Nós temos um menino aqui de somente dez anos que esta fazendo karate. Eu posso mostrar como seu ombro direito já esta danificado. Qualquer coisa que destrói a alma de uma pessoa: orgulho, vaidade e raiva não são de modo nenhum bom. O mesmo aplica-se no nível físico. Ninguém necessita uma pessoa doente, mas é muito mais fácil controlar uma pessoa doente.
Chutes no karate que torcem a articulação, e põem a junção para fora, danificam-na extremamente. O osso sai apenas da junção e as causas micro-fissuras na cápsula da articulação. Isso destrói a coordenação do corpo e produz a dor nas junções. Por que se deve praticar dessa maneira? O que você deve fazer preferivelmente deve ser fortalecer as junções. As técnicas de golpear que nós aprendemos nos são de fortalecimento das junções, aquecimentos e alongamento, e então o procedimento de golpear.
Faça um exame da razão de quebrar objetos duros como tijolos e taboas. Imagine que alguém criou realmente estes objetos; alguém fêz os tijolos e as taboas em uma fábrica. Assim porque deve alguem destruí-los? Para que? Por que devemos nós quebrar algo criado por outro ser humano? É realmente uma filosofia interessante! Alguém devia imaginar quem dá este poder e energia para quebrar os objetos. Que força dá este poder?
SP: Uma das coisas que me impressionarma mais foram todos os estudantes do Systema. Eu acho que os alunos de Mikhail e de Vladimir os refletem muito bem como pessoas. São pessoas muito úteis, muito amigáveis, boas.
MR: Vai se dizer que o que quer que a árvore seja, é aquilo que a fruta será.
SP: Eu me recordo de ter ouvido de James que há uma possibilidade do Systema seja ensinado no sistema educacional em Moscou.
VV: Este é sobre o que Mikhail está trabalhando em seu ministério. Estão colocando os Ministérios da Saúde e da Educação envolvidos nesta. Este é o projeto que está indo em pauta exatamente agora. Não é tudo simples. Não são todos que gostam desta idéia, especial essas que trabalham para as forças escuras.
SP: existem forças escuras em todos os países.

James Williams escuta a resposta
MR: Deus irá nos ajudar. Isso é o porque nós necessitamos de guerreiros. Esta é uma pergunta difícil - o governo após a Revolução quis as habilidades de combate dos monastérios. Naturalmente tentaram controlar estas artes. Por exemplo, há o "sambo" - e dizem que o sambo veio do judô, mas realmente há duas direções diferentes no sambo - uma está na competição e a outra sambo de combate. O judô não tem esse componente do combate. Mas o sambo não foi convertido em um esporte olímpico.
JW: Eu não sei o bastante sobre o monge Rasputin, se era uma pessoa boa ou má, mas ele adquiriu muito de seu poder do treinamento nos monastérios? Obviamente ele era muito duro de matar.
MR: Rasputin é uma figura muito controversa. Certamente tinha algo. Mas que forças controlavam ele - bem ou o mal- Eu não sei. Mas tinha poder. Deus age em seus próprios meios.
SP: Você espera que com seus esforços e os esforços de outros que alguns dos políticos podem iluminar-se e usar esta ferramenta maravilhosa para o bem?
MR: Há muitos coisas positivas que acontecem na Rússia agora. É muito possível que este tipo de coisa possa acontecer. Eu creio plenamente no renascimento e reconstrução de tudo, na Rússia, na América, na Europa, e na Ásia. Eu sou pelas pessoas, e não contra qualquer coisa. Eu estou para o bem. Eu estou para a justiça. As pessoas são as mesmas em toda parte - na América, no Canadá e na Rússia. Todos têm uma família e os filhos.
Não importa o que nós dizemos, dentro de nossas almas nós somos pessoas amáveis. Ao menos nós não desejamos o mal naqueles perto de nós, em nossas crianças. Nossas pessoas classificarão para aonde ir para o treinamento... terminar acima no céu ou no inferno!
JW: Eu gostaria de perguntar sobre as técnicas da espada que você me ensinou na Rússia no último verão. Seu pai ou avô ensinou também a espada?
MR: Aquelas técnicas que eu mostrei eram as mais simples... as primeiras coisas ensinadas, mas pareceram-lhe como habilidades avançadas.
JW: (risos) eram muito boa!
MR: Ser hábil no uso das armas é, para um guerreiro, como ser hábil com uma colher. Eu não me importo que arma você usa - uma metralhadora ou a espada.
JW: Eu estou tentando compreender as raízes do Systema. Os guerreiros não lutavam com suas mãos nuas, mas com armas quase toda a hora. Quando eu vi o Systema primeiramente em seu vídeo "Máster of Fighting - Mestre da Luta." Eu pensei: "Oh, Isto é uma arte de espada!"
MR: Sim, isso está correto. Muitas de nossas técnicas vêm de ser hábil com armas.
JW: Isso é porque eu tentei compreender a parte da espada porque é a raiz dos movimentos, das evasões e da suavidade do Systema.
MR: Isso está correto. A armadura russa não era assim muito pesada e os protetores do metal eram feitos de elos de corrente (cotas de malha), assim eles tinha de lidar com maioria dos golpes usando seus corpos.
JW: Eu tentei um corte contra uma cota de malha usando uma espada o golpe entra até o osso mesmo se a espada não a corte. Eu penso que Michael e eu somos um pouco impares porque nós gostamos deste material velho!
SP: Scott, você tem alguma pergunta particular?
SM: Sim, eu estou interessado no papel das histórias, quero dizer que nós fazemos muito treinamento físico: rolamento, golpes e de sensibilidade, mas podem as pessoas aprender bastante ou até mesmo mais, ouvido histórias de pessoas que tiveram experiências profundas na realidade? São tais histórias, uma boa ferramenta para o ensinamento?
MR: Psicologicamente são uma ferramenta grande. Por exemplo, nós estamos falando agora e você está adquirindo muita informação e você aprecia. Mas você tem que chegar a esse nível. Primeiramente você faz muito trabalho físico e então você escuta. Igual a uma criança pequena. Como uma criança pequena, correndo, saltando e fuçando, e então quando esta cansada ela se senta e está pronta para escutar! (risos).
SP: O Systema tem aspectos religiosos, filosóficos, e técnicos. Eu sei também que há algumas práticas para a saúde como a lavagem de água fria que você se usa. De onde estes vêm e como ligam ao sistema?

Vladimir Vasiliev e esposa Valerie
MR: Não são somente as pessoas modernas que são espertas, os povos nos passado também eram espertos em demasiado! Sabiam também sobre o Sistema Imunológico. A medicina tem se desenvolvido todo o tempo assim, quando as pessoas são feridas ou machucadas nas guerras que têm que se curadas Todos os exercícios que nós fazemos devem melhorar a força, a saúde, e a reabilitação.
SP: Você aprendeu estas coisas quando criança ou mais tarde?
MR: Tudo veio gradualmente. Eu não poderia aprender tudo de uma vez. Não há nenhum truque nisto. Tudo vem de suor e de sofrimento. O conhecimento vem essa maneira. Eu tenho um número de cicatrizes que eu ganhei me defendendo contra às armas. Não há um ponto em meu corpo que não foi atingido em uma vez ou em outra. Todos meus erros são visíveis em meu corpo!
SP: No pequeno livreto no Systema, há uma breve menção de um filósofo russo. Era Porfiry Ivanov? Teve uma forte influência em você?
MR: Não, não tem realmente nenhuma influência no Systema Russo. Começou uma seita. Pensou quase em um tipo de "dez mandamentos". Deu dez maneiras viver. Apresentou-se como deus. Naturalmente, lavagem com água fria é muito boa. Mas o resto da filosofia desse homem não é algo que nós incorporaríamos. Na Rússia, o povo sempre nadou em lagos de gelo e faz lavagem com água fria , não somente Porfiry Ivanov! Fazem um furo no gelo e mergulham dentro. E têm-se lavado no poço toda a hora com a água fria congelada. Isso é feito por séculos. Ele inventou sua própria religião.
* Porfiry Ivanov (1898-1983). Um asceta russo que se alto proclamava doutor das províncias russas, que morreu em 1983. Ivanov, um místico que se denominava o irmão de Jesus, advogava um estilo de vida acético, envolvendo jejum, banhos de água fria e andar descalço na neve. Conseguiu o status do culto e os centros de seus seguidores espalharam-se em muitas cidades da antiga União Soviética.
JW: Desde que mesmo os comunistas não poderiam doutrinar cada pequena vila, as pessoas ainda assim praticariam estas técnicas marciais dos velhos tempos?
MR: Se você tiver algum dinheiro em sua casa, as autoridades do imposto não encontrarão tudo. E não importa onde você vive, no centro de New York ou nos subúrbios. Você ainda se oculta. A mesma coisa era o caso na Rússia [ para as artes marciais ].
SP: Isto é uma resposta muito japonesa!
JW: U cavalheiro russo de Chicago disse-me que os russos treinavam nos porões e não diziam a qualquer um que praticavam arte marcial porque eram ilegais na Rússia.
MR: Sim, é a mesma coisa em toda parte no centro de Nova Iorque ou de Moscou.
SP: No seu caso pessoal, sua compreensão do Systema tem uma relação muito pròxima com sua criação cultural e religiosa que envolve a igreja ortodoxa russa. Você pensa que estes princípios universais podem ser aceitos extensamente mesmo para pessoas com históricos religiosos diferentes?
MR: Por que não aceitariam o Systema? Nós não somos uma seita, nem somos nós que impomos qualquer coisa. Podem pegar algumas idéias do treinamento e usá-las sem necessariamente converter-se à religião. Nós tivemos, por exemplo, aproximadamente 130 pessoas no seminário e talvez somente 10 deles cristãos.
SP: Há algo como os "Dez Mandamentos" do Systema?
MR: Os "dez mandamentos" que Moises trouxe de Deus são nossos mandamentos! (risos)
SP: Ele fêz a lição de casa para nós! Bem, eu esgotei minha lista das perguntas. Esta foi uma entrevista muito estimulante! Obrigado!

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KENGI ICHI

Observar pessoas diferentes praticando as artes do ki-aikidô ajudam a entender que não existe detalhes fundamentais mas princípios.