sexta-feira, junho 09, 2006

Educando uma criança (Shinichi Tohei)



Koichi Tohei sensei é meu mestre e também meu pai. Eu gostaria de falar a vocês sobre Koichi Tohei sensei sob o ponto de vista do filho.
Outro dia, eu lembrei de uma experiência que tive na infância. Meu pai ofereceu-se para jogar five-in-a-row (?) ou o jogo de cartas os cem famosos poemas (Hyakunin-isshu; jogo japonês) comigo. Ele jogou muito seriamente. Eu joguei five-in-a-row dez vezes seguidas. E eu perdi dez vezes seguidas. Ele me derrotou sem qualquer hesitação :-)
Desde que eu era pequeno, eu sempre me decepcionei muito ao perder nesse tipo de jogo. Meu pai sabia disso e então me fez pensar a respeito do porque eu havia perdido o jogo.
Uma vez, eu não pude vencer, então, eu chorei e disse: " eu não posso vencer." No próximo jogo, de propósito, meu pai perdeu a partida. Você consegue imaginar o que ele disse depois disso?
Ele disse zangado: "isso se chama 'fazer alguém parecer bom'."
Eu senti a dor da derrota ainda maior. Então disse a ele: "eu não vou chorar todas as vezes se eu perder o jogo. Então, por favor, jogue comigo de modo sério."
Ele disse: "eu entendo." Então, nós jogamos novamente. E ele venceu cinco vezes seguidas.
NOvamente, ele me deu tempo para pensar sobre o porque de eu estar perdendo as partidas. Quando eu descobri o motivo, ele me elogiou muito.
Hoje, pensando sobre o que passou, penso que ele acreditava na habilidade da criança e me conduziu a ter mais disposição sem utilizar falsas satisfações.
Eu aprendi que quando as coisas não vão bem, eu procuro o motivo, e continuo a jogar o jogo. Sem dar as cosas ao problema e sem interromper o Ki. Esse é meu hábito hoje.
Claro, o modo de conduzir uma criança depende da personalidade de cada uma. De qualquer modo, esse é o modo de meu pai, e foi o melhor para mim.
Quando no jogamos o jogo de cartas uma centena de poemas, a situação era a pior. Papai pegava 94 cartas e eu pegava 6 cartas. Eu era muito infeliz perdendo tanto jogos. Meu pai uma vez mais ficou sabendo disso e estão ele escreveu, em pedaços de papel, cada poema e colocou entre os papéis de casa, onde eu pudesse vê-los.
Eu tentei memorizar três poemas por dia. Desse modo, eu consegui memorizar todos os poemas em mais ou menos um mês. Depois disso, eu joguei novament ecom meu pai. Dessa vez, papai pegou 70 cartas e eu 30 cartas. Lembro que fiquei muito feliz.
Novamente, ele simplesmente não satisfez a criança, mas me levou a aprender como jogar. E ele continuou a jogar comigo de modo sério.
Em algum momento, eu cheguei a ter 50% de chance de vencer quando jogávamos five-in-a-row ou o jogo de cartas os cem famosos poemas. Eu penso que hoje não há muita diferença de habilidade entre nós. Mas ainda não sou tão hábil a ponto de vence-lo.
Eu foco na aplicação do Ki na educação. Por que eu gostaria de dividir os ensinamentos intangíveis de Koichi Tohei sensei com o maior número possível de pessoas. Isso é a coisa mais básica na utilização dos princípios de Ki para ajudar pessoas a crescer na educação doméstica, educação escolar, educação no trabalho e educação para liderar.
Se você está interessado nas mesmas coisas, vamos estudar juntos.
(texto original publicado no weblog de Shinichi Tohei. Clique no título e veja este e outros textos, em inglês)

quinta-feira, junho 08, 2006

Palavras do Fundador O-Sensei, Morihei Ueshiba

Aikidô deve ser um caminho ideal do natural, quando visto em relação a Verdade do Universo. O princípio “Ri” deve ser a base que propicia coerência e razão para todas as coisas. Se fossemos analisar ou minuciar o Ri como faria um cientista, poderíamos chamar as coisas que manifestam na superfície física (omote) “Ho” , (seria o mesmo que dizer, uma regra, um método ou lei).

Aikidô é um Ho. É uma das leis sutis enviadas da verdade do céu do Takemusu Aiki (bu- gerando Aiki). Podemos também chamar isso como o “Caminho da Harmonia entre Céu, Terra e Homem”, e portanto pode ser descrito como o Caminho de reconciliamento da miríade de essências e suas manifestações múltiplas.

Você deve entender que técnicas de Aikidô são um Caminho do Misogi, ( que seria, do “ritual da purificação”) da mente e do espírito/mente (kokoro) e um caminho de treinamento. Este fato nos faz conscientes das leis do universo e o mesmo fato é a verdade principal do funcionamento do Universo.
Por essas razões uma vez que você tenha dominado esse Aikidô você entenderá a Lógica Universal e também chegará a um bom entendimento de si próprio.
Por exemplo, se mover uma espada você se coloca inteiramente dentro dessa ação e se une com todo universo para aquele momento. Em Aikidô existe um sábio caminho sutil e misterioso para o espadachim. Neste Caminho da Espada, se você não conseguir dominar perfeitamente a moralidade fundamental, sua arte se tornará certamente na “Espada Corrompida da Injustiça e do Vício” (ja-ken). Mas o que significa essa moralidade fundamental da humanidade?

Ë se manter na virtude da fidelidade, honestidade e comportamento exemplar, caridade de coração e lealdade. Ë fazer o fundamento pelo qual você protege e preserva em verdade, alegria e beleza. Portanto, levar a virtude adiante através do melhor esforço de uma pessoa. Devemos nos esforçar na direção de tornarmo-nos mais e mais sábios e precisos de sensibilidade. É necessário possuir absoluta e toda sinceridade abrangente para todas as coisas. Em resumo devemos prosseguir na direção do “Caminho da Harmonia” no espírito de Amor solidificado de Amor.

Para que possamos alcançar esta mente sincera e fomentá-la, devemos começar por superar a nós mesmos!

Publicação inicial no livro “Aikidô”, número 4, 1981.
(Trad. Kendi Chikude)

terça-feira, junho 06, 2006

As 13 Regras para Instrutores de Aikidô

AS 13 Regras para Instrutores de Aikidô

1) Aikidô nos revela o caminho para unificação com o universo. O maior propósito do treinamento em Aikidô é coordenar mente e espírito e tornar-se uno com a própria natureza.
Como a natureza ama e protege toda a criação e ajuda todas as coisas a crescer e desenvolve, devemos ensinar cada estudante com sinceridade, sem discriminação ou parcialidade.

2) Não há discordância na verdade absoluta do universo, mas há discordância no domínio da verdade relativa. Combater contra outros e vencer somente traz vitória relativa. Não combater e ainda vencer traz vitória absoluta. Ganhar uma vitória relativa conduz mais cedo ou mais tarde para inevitável derrota.
Enquanto estiver praticando para se tornar mais forte, aprenda como você pode evitar o combate. Você irá progredir muito rapidamente através do aprendizado para arremessar seu oponente tendo prazer, e ser arremessado tendo prazer também, e pela ajuda mútua para aprender técnicas corretamente.

3) Não critique qualquer outra Arte Marcial. A montanha não ri do rio que é mais modesto, nem o rio fala mal da montanha porque ela não pode se mover. Cada pessoa possui suas características e ganha sua posição na vida. Fale mal de outros e certamente isso retornará para você.

4) As artes marciais começam e terminam com cordialidade, não na forma sozinha, mas no coração assim como na mente. Respeite o professor que o ensinou e não pare de ser grato especialmente para o fundador do Aikidô que mostrou o caminho. Aquele que negligencia isso não deveria se surpreender se seus estudantes fizerem pouco caso dele.

5) Esteja avisado contra presunções. Presunções não seguram somente seu progresso, elas causam sua regressão. A natureza não possui limites, seus princípios são profundos.
O que leva a presunções? Presunções são causadas por pensamentos baixos e um compromisso malfeito com nossos ideais.

6) Cultive uma mente calma que vem da parte universal do corpo pela concentração de seus pensamentos no ponto um no abdome inferior. Você deve saber que é uma vergonha Ter a mente fechada. Não dispute com outros meramente para defender seu ponto de vista. Certo é certo. Errado é errado. Julgue calmamente o que é certo e o que é errado. Se você está convencido que você está errado, faça correções corajosamente. Se você encontra alguém que é seu superior, aceite seus ensinamentos alegremente. Se qualquer um está errando, explique-lhe em silêncio a verdade, e esforce-se para que ele possa entender.

7) Até mesmo um verme de dois centímetros tem um espírito de um centímetro. Cada pessoa respeita seu próprio ego. Portanto não desrespeite ninguém nem machuque o respeito dele a si mesmo. Trate a pessoa com respeito, e ela o respeitará. Faça pouco caso delas que ela fará pouco caso de você. Respeite sua personalidade e escute ponto de vista dela, e ela o seguirá contentemente.

8) Não fique nervoso. Se você ficar nervoso significa que sua mente saiu do ponto um no abdome inferior. A raiva é algo de se ter vergonha no Aikidô. Não fique nervoso por você mesmo. Fique nervoso somente quando os direitos da natureza ou de seu país estão em perigo. Concentre no ponto um, e fique nervoso no ponto um. Saiba que quem fica nervoso facilmente perde coragem nos momentos importantes.

9) Não poupe esforços enquanto estiver ensinando. Você avança quando seus estudantes avançam. Não seja impaciente quando estiver ensinando. Ninguém pode aprender bem em uma vez. Perseverança é um ensinamento importante, assim como paciência, gentileza, e a habilidade de se colocar no lugar do seu aluno.

10) Não seja instrutor arrogante. Os alunos avançam no conhecimento quando obedecem a seu instrutor. Uma característica especial no treinamento em Ki é que o instrutor avança quando está ensinando seus alunos. Treinamento requer uma atmosfera de respeito mútuo entre instrutor e seus alunos. Se você vê um homem arrogante, você vê um homem com pensamentos baixos.

11) Quando praticar não demonstre seu poder sem um bom propósito temendo que você cause resistência na mente daqueles que o observam. Não discuta sobre poder, mas ensine da maneira correta. Palavras sozinhas não podem explicar. Em algumas vezes, ao ser aquele a ser arremessado, você pode ensinar com maior eficiência. Não pare o arremesso do seu aluno no meio do caminho ou pare seu Ki antes que ele possa completar seu movimento ou você dará a ele maus hábitos. Esforce-se sempre com palavras e atitudes para instigá-lo no Ki correto e na arte do Aikidô.

12) Faça qualquer coisa com confiança. Nós estudamos todo o princípio do universo e o praticamos, e o universo nos protege. Não há nada para se ter dúvidas ou medo. Convicção real vem da crença que somos uno com o universo. Temos que ter a coragem de dizer com Confucio: Se eu tenho uma consciência leve, eu encaro um inimigo com dez mil homens.

(Extraído do Aikido in Daily Life. Trad, Kendi Chikude)

Hara, Zen e Tesshu Yamaoka

A moderna medicina informa que de 80 a 90% de todas as doenças são causadas por stress no sistema nervoso. Entre as doenças causadas pelo stress estão problemas no estômago e intestino, problemas de coração, fígado e rins, pressão alta e diabetes.
Recentemente, as mudanças na política econômica e circunstâncias sociais estão desconcertantes, e a poluição do ar, poluição sonora, e a poluição de todo o meio-ambiente estão aumentando. O sistema nervoso não pode lidar com tudo isso. As pessoas estão ficando exaustas e tensas, e pulam ao menor ruído e exaltam-se com pequenos problemas. I stress crece, e eventualmente resulta em colapso nervoso, algumas vezes do corpo. Gradualmente o sistema nervoso está entorpecendo e ficando amortecido com tudo isso.
A palavra japonesa "hara", refedere-se ao modo de manter-se calmo. o centro inamovível com o ponto um. Isso refere-se ao modo de pensar e sentir a partir do ponto um no baixo abdômen em vez de a partir da cabeça. Vivendo deste modo, pode-se estar em paz consigo mesmo e com o mundo não importando o quão caótica as coisas fiquem. A história de Tesshu Yamaoka, um mestre espadachim que viveu nos últimos tempos do governo Tokugawa, no Japão do século 19, ilustra com sua vida.
Tesshu Yamaoka não se treinou apenas na arte da espada, mas também praticou Zen durante toda a sua vida. Sua vida estava comprometida na resolução dos problemas do espírito. Apesar de ter vivido em uma época turbulenta e ser um mestre espadachim, Tesshu Yamaoka nunca matou ninguém durante toda sua vida. Pode-se imaginar a calma, o quão não divergente, e confiante ele devia ter sido.
Um dia, Tesshu Yamaoka estava caminhando por uma estrada regional com vários outros homens quando foram apanhados por uma súbita tempestade. Relâmpagos iluminando o céu, trovões movendo o ar. Em seus corações, todos, menos Tesshu Yamaoka, queriam procurar proteção da chuva sob o teto de alguma casa. Mas porque ninguém queria ser o primeiro a sugerir isso, eles continuaram a caminhar obstinadamente sob a tempestade, pretendendo que ela não os detivesse. Subitamente, acompanhado por um barulhento estrondo de trovão, um raio caiu muito próximo a eles. Atemorizados, eles foram ao chão. Se todos tivessem feito isso pareceria perfeitamente natural e a única coisa a se fazer, mas um dos homens tinham permanecido parado apenas com os braços cruzados. Foi Tesshu Yamaoka. Seus espantados companheiros perguntaram: "Você não ficou surpreso?". Yamaoka respondeu entristecido, "Não, eu não tive tempo de ficar surpreso. Aconteceu rápido demais". A maioria de nós fica assustada porque as coisas acontecem rápido demais, sem necessidade e temos reações anxiosas e exageradas. Tesshu Yamaoka estava sempre praticando e vivendo o Zen. Então, no momento que o raio explodiu, sua mente e seu corpo estavam naturalmente unificados. Por causa disso o raio e o trovão desapareceram no seu ponto um, e ele não teve tempo de ficar surpreso.
Praticando Ki no Toitsuho com avidez e diligentemente, podemos desenvolver um verdadeiro hara.(contado por Tohei sensei em How to unify Ki)

O poder para encontrar mesmo no fogo o frio

No passado, um famoso monge Zen chamado Kaisen viveu na região de Kai, no Japão. Era um tempo de guerra, e quando os soldados inimigos atacaram o tempo e o incendiaram, Kaisen não fugiu do templo. Ele sentou-se imóvel, em estado meditativo e disse: "Clareie sua mente de todos os pensamentos mundanos, e encontre mesmo no fogo o frio". Dizendo isso ele foi queimado até a morte junto com seu templo.
A frase "clareie sua mente e todos os pensamentos mundanos", não significar sair de si para a religião ou outra ilusão material. Isso significa vir para um infinito pequeno ponto consigo inteiro, coração, mente, e força. Nesse estado se é/está seu verdadeiro eu e se compreende o poder para "encontrar mesmo no fogo o frio". (contado por Tohei sensei em How to unify Ki)

Relações entre o método de Tohei sensei e outras tradições

O conceito de tornar-se um com o universo é bom não é privilégio de Tohei sensei, existindo em outras tradições, como o budismo tibetano ( Lama Govinda
) e no budismo japonês,
tão presente na formação do ideário do guerreiro. Dogen, assim como Takuan (A mente não-mente;
Onde localizar a mente}
foram fundamentais ao desenvolvimento de métodos que ultrapassavam a questão técnica e à matança. No caso de Tohei sensei, há a preocupação de simplificar
e não mistificar o processo (tanto Ki-Aikido [kengi
e jogi], Toitsudo, Kiatsu ryuho, Shodo, Chado etc) para, desse modo, possibilitar a todos existir unos com o universo.

segunda-feira, junho 05, 2006

Fórum - Vamos ajudar uns aos outros a crescer

Logo abaixo dos links, temos um fórum que está aí pra ser usado. Quanto mais pudermos conversar a respeito das informações aqui postadas e corrigir deslizes e aprofundar conhecimentos, melhor no capacitaremos à prática. Como diz Tohei sensei, o mero conhecimento teórico não basta, é preciso a prática. Mas, ele mesmo afirma que experimenta as informações e, a partir da eficiência e praticidade, aproveita os saberes. Dúvidas, informações, novidas, por favor, usem o fórum e vamos, desse modo, ajudar um ao outro a crescer como um melhor ser humano.

Entrevista sobre Shobogenzo – Soku Shin Ze Butsu 1

Entrevista sobre Shobogenzo – Soku Shin Ze Butsu 1
por Mike Luechtfordem
8/2/2000

O próximo capítulo é Soku-shin-ze-butsu., “Mente aqui e agora é Buda”. Este é um capítulo muito interessante porque a “mente” é central na civilização ocidental. Tendemos a pensar que “mente aqui e agora é Buda” significa que, quando nossa mente está aqui e agora, então somos Buda. Porém o significado real é mais sutil que isso, é o que o Mestre Dogen explica nesse capítulo. O segundo ideograma em chinês “shin” significa coração. Mas em japonês, por exemplo, coração e mente são a mesma coisa. Portanto os japoneses apontam para seus corações quando querem dizer “em minha mente”.

Comentário: Na verdade faz mais sentido para mim. Alguém me disse há alguns anos atrás, acho que quando estava falando sobre os chineses, que havia uma frase sobre esse assunto, você não sabe sobre algo realmente a não ser que você o tenha sentido.

Tudo bem, mas nosso cérebro está na nossa cabeça não é mesmo? Portanto dessa maneira o jeito que os japoneses pensaram sobre o coração ser o centro parece muito estranho. Mas para eles, a idéia de que as emoções estão na sua cabeça lhes parece estranho. No ocidente nós tendemos a separar o intelecto das emoções, eu não estou seguro se esta separação continua a ser válida. Afirmo isso pois a ciência não está totalmente segura sobre quais são as diferenças entre pensamentos e emoções. O que é um pensamento e o que é uma emoção? De qualquer forma, podemos esperar que as coisas possam ficar mais esclarecidas. Eu lerei sobre a introdução do começo deste capítulo:

Soku significa “aqui e agora”, Shin significa “mente”, Ze significa “é”, Butsu significa “Buda”. O princípio do Soku-shin-ze-butsu, ou “mente aqui e agora é Buda” é muito famoso no Budismo, mas muitas pessoas têm interpretado o princípio para sustentar crenças do naturalismo.

“Naturalismo” nesse caso significa o tipo de sentimento que nossa mente está sempre aqui, portanto está tudo bem enquanto estivermos.

Dizem que se nossa mente aqui e agora é Buda nossa conduta deve sempre ser correta., e nesse caso não há necessidade de fazer qualquer esforço para entender ou compreender Budismo.

Comentário: Interpretação do Zen Budismo muito comum na década de 1960 pelos norte-americanos. Um tipo de interpretação de hippies sobre esse assunto.

Sim, a interpretação da geração da moda.

Comentário: Sim, eu não diria isso (inaudível) porque sinto geralmente que há uma interpretação popular (inaudível)

Sim certamente os anos 60 houve um sentimento que está tudo bem enquanto estivermos, como uma reação sobre o forte moralismo cristão, você sabe, nós somos terríveis e tudo mais.

Comentário: Sim, eles usaram algumas citações Zen para suportá-los.

Entretanto essa interpretação é um grande erro. O princípio soku-shin-ze-butsu, “mente aqui e agora é Buda”, deve ser entendido não pelo ponto de vista do intelecto, mas sim pelo ponto de vista da prática. Em outras palavras, o princípio não significa crença em algo espiritual chamada “mente” mas afirma que o tempo “agora” e o lugar “aqui” como realidade propriamente dita. Este tempo e lugar deve sempre ser absoluto e correto, e assim podemos chamar de a verdade ou “Buda”.

Essa introdução dizendo que a mente aqui e agora é Buda significa que estar no momento presente é Buda. Estar presente é Buda, estar aqui e agora é Buda. Então mesmo o Mestre Dogen, como veremos adiante, na verdade cita algumas interpretações erradas da frase soku-shin-ze-butsu que é uma frase muito famosa mesmo antes de nossos tempos, em uma tentativa de conduzir para o que a frase realmente significa.

O que cada Buda e cada patriarca tem mantido e contado com , sem exceções, é somente “mente aqui e agora é Buda”. Entretanto muitos estudantes interpretam erroneamente que “mente aqui e agora é Buda” não existiu na Índia, mas foi primeiramente escutada na China. Como resultado, eles não reconhecem seu erro como um erro. Devido a não reconhecer seu erro como um erro, muitos caem no não-Budismo.

Houveram muitas discussões sobre que partes do Budismo vieram da Índia, e quais partes vieram da China. Houveram muitas discussões sobre quais sutras foram realmente originais do Budismo inicial, e quais deles foram escritos mais tardes. E eu não sei muito sobre isso, mas acredito que o Mestre Dogen está dizendo que houveram pessoas que pensaram que isso era uma nova maneira de interpretar o Budismo. Do mesmo modo que algumas pessoas pensam que Zen é algo que vem do Japão. A palavra “Zen” é certamente algo que vem do Japão , mas a prática é algo que vem do Budismo original.

Quando pessoas estúpidas escutam conversas sobre “mente aqui e agora é Buda”, interpretam que seres comuns, intelectualizam e sentem percepção, que nunca estabeleceram o corpo-mente, apenas são Buda.

Portanto eles pensam que o intelecto e senso de percepção de pessoas comuns que nunca praticaram Zazen estabeleceram o corpo-mente (o corpo-mente significa a mente que atinge a verdade, e mais uma vez temos que ter cuidado com o significado da palavra “mente”.), portanto o que ele está dizendo que muitas pessoas pensam que pessoas comuns apenas são Buda porque suas mentes somente estão aqui e agora.

Isso ocorre por nunca terem encontrado um verdadeiro professor. A razão em afirmar que eles se tornaram não-Budistas é que existiu um não-Budista na Índia chamado Senika., seu ponto de vista é expressado da seguinte forma:
As grandes partes que seguem em itálico é a visão de Senika.

Pergunta: Há uma citação específica ou não?

Eu não acredito. Algumas vezes não podemos rastrear as citações, e nesse caso não fomos capazes de encontrar a origem das citações. Se é uma citação direta ou se é uma recordação literal do Mestre Dogen, mas no Shobogenzo em japonês, está escrito em ideogramas chineses, portanto os colocamos em itálico. Porém de onde vieram não é conhecido. Se pudéssemos encontrar, geralmente é colocado nas observações de rodapé. Eu devo continuar com isso? Irei ler sobre isso porque é uma representação de um ponto de vista errado:

A grande verdade existe agora em nosso próprio corpo, para que assim possamos reconhecer facilmente sua situação. Em outras palavras, (uma inteligência espiritual) diferencia entre dor e prazer, naturalmente sente frio e calor, reconhece desconforto e irritação. (A inteligência espiritual) não é nem restrita por uma miríade de coisas ou conectada com circunstâncias: coisas vêm e vão circunstâncias surgem e passam, mas a inteligência espiritual sempre permanece,
Seria mais como a alma.

sem mudança. Esta inteligência espiritual está em toda nossa volta, permeando toda almas – comuns e sagradas- sem distinção. No seu interior, flores ilusórias no espaço existem pelo tempo,

“Flores ilusórias no espaço” é uma maneira de conversar sobre ilusões ou desilusões.,

mas quando aparecem discernimentos momentâneos e coisas e circunstâncias desapareceram , então a inteligência espiritual, a essência original, é facilmente reconhecida sozinha, pacífica e eterna. Apesar da forma física pode estar quebrada, a inteligência espiritual parte inquebrável ,

em outras palavras, a alma é separada do corpo

como ocorre quando a casa queima no fogo, o dono da casa sai. Esta presença espiritual clara e verdadeira é chamada “a essência da percepção e inteligência”. Também é descrita como “Buda”, e chamada “iluminação”. Inclui ambos o sujeito e o objeto, e permeia ambos desilusão e iluminação. Portanto permite a miríade de Dharmas e todas circunstâncias serem como elas são. A inteligência espiritual não coexiste com circunstâncias e não é o mesmo que coisas. Ela tolera constantemente passando através de Kalpas.

Um “Kalpa”é uma palavra em sânscrito para um grande período de tempo. Eu acredito que é o período de tempo que leva para um anjo gotejar água sobre uma rocha para desgastar a rocha ou algo como isso.

Também podemos chamar as circunstâncias que existem no presente “real”, desde que derivem da existência da inteligência espiritual: como são condições surgidas da essência original, são coisas reais.

Na verdade aproxima-se a Hegel, conclusão final de Hegel.

Mesmo assim, não são eternas como a inteligência espiritual, pois elas existem e desaparecem. A Inteligência espiritual não se relaciona com clareza e escuridão, pois conhece espiritualidade. Chamamos de “inteligência espiritual”, também chamamos de “a própria verdade”. Chamamos como “a base do despertar”, chamamos de “essência original”, e chamamos de “substância original”. Alguém que percebe essa essência original é dito que retornou a eternidade e é chamado um grande homem que retornou para a verdade. Após isso, ele não vagueia mais pelos ciclo da vida e da morte, ele experimenta e entra no oceano essencial onde não há nem aparecimento ou desaparecimento. Não há nenhuma realidade além dessa, mas enquanto a essência original não emergiu, os três mundos e seis estados são ditos que surgirão em competição.

Os “três mundos” e os “seis estados” estão nos rodapés, eles surgiram antes.

Esta é, portanto, a visão do não-Budista Senika.

Portanto é uma visão atrativa mas é uma mera teoria.

Comentário: Seria muito próximo a lógica da yoga, não é?

Comentário: Sim, seria interessante saber o que as palavras em sânscrito são nelas.

No original?

Comentário: Sim, para ver se elas correspondem a palavra (inaudível) naquela filosofia.

Ah sim, o Mestre Dogen não escreveu nenhuma palavra em sânscrito no seu original mas o kanji pode ser rastreado para os significados em sânscrito. Mas não sei o que eles são aqui.

Comentário: Isso é um pouco de discurso retórico não é?

Sim, absolutamente. Mestre Dogen não diz algo a mais do que “esta é portanto a visão do não-Budista Senika”. Ele não comenta nada mais do que isso. Ele prefere ir por uma estória longa, a estória avança a próxima página e talvez devêssemos parar por aqui, não é mesmo? Muito obrigado.

Trad. Kendi Chikude.

ENTREVISTA COM KOICHI TOHEI (1996)

ENTREVISTA COM KOICHI TOHEIO que é o verdadeiro Aikidô?
Por Stanley Pranin
Entrevista realizada no dia 8 de fevereiro de 1996 no QG do Ki Society em Tóquio)

Perfil de Koichi Tohei

Nascido em Tóquio em 1920, mudou-se ainda muito jovem para cidade de Tochigi onde passou sua adolescência. Possuía uma saúde muito frágil que o forçava a ir freqüentemente ao hospital. Iniciou seu treinamento em Judô devido à insistência de seu pai. Conseguiu fortalecer seu corpo até um certo nível, aos quinze anos recebeu a faixa preta e aos dezesseis anos entrou no programa preparatório da Universidade Keio. Continuou praticando judô com entusiasmo, mas contraiu uma pleurisia devido ao treinamento excessivo e foi forçado a deixar a escola por um ano. Durante esse período, ele se dedicou ao treinamento de método de respiração Misogi, Zen e outros tipos de disciplinas.
Aos dezenove anos conheceu Morihei Ueshiba e tornou-se seu estudante. Em um curto período de meio ano ele se tornou o representante do fundador (Dairi), sem ainda receber nenhuma graduação no Aikidô foi enviado para ensinar na Academia de Polícia de Nakano e na escola particular de Shumei Okawa.
Aos 23 anos ele foi convocado para o serviço militar e aprendeu sob fogo o segredo de direcionar o ki para o ponto um no abdome inferior (seika no itten).
Entre 1953 e 1971 ele visitou os Estados unidos por quinze ocasiões para ensinar e difundir Aikidô e os princípios de Ki. Tohei recebeu o décimo dan em Aikidô em 1969. Ele ocupou o cargo de Diretor do Shihan (Shihan Bucho) e Diretor (Riji) do Aikikai até deixar esta organização em 1974.
Tohei estabeleceu a Ki Society (Ki no Kenkyukai) em 1971 (reconhecida em 1977 como organização sem fins lucrativos), da qual é presidente até hoje. A Ki Society é a única organização especializada no treinamento em ki sem fins lucrativos no Japão a ser reconhecido pelo Ministério Público do Bem-Estar.


Unificação da Mente e Corpo (Shin Shin Toitsu) e Ueshiba Sensei
Ueshiba Sensei foi uma pessoa que mostrou o que significa a existência em um estado relaxado, possuir o Ki verdadeiro, e unificar a mente e corpo. Sua postura era sólida como uma rocha e você não seria capaz de movê-lo não importando a maneira de empurrá-lo ou puxá-lo; entretanto ele era capaz de me arremessar sem nenhum esforço sem permitir que eu sentisse que ele estava usando qualquer esforço. Eu estava abismado que pudesse realmente existir uma pessoa como essa no mundo. Ueshiba Sensei ensinou-me que o estado relaxado é o mais poderoso, ele era a prova viva disso.
Eu não acredito que atualmente exista uma pessoa capaz de demonstrar do mesmo modo do Ueshiba Sensei. Essa qualidade maravilhosa que ele sofreu tanto para desenvolver (desconsiderando as histórias sobre ele ter arrancado pinheiros do chão, e outras histórias falsas) é o que ele deveria tentar deixar para as gerações futuras.

Por que Ueshiba Sensei proibiu shiai (combate)
Ueshiba Sensei não permitia combates. Em um combate real o objetivo é privar seu oponente absoluta e completamente de seu poder; não cumprindo a isso você não pode declarar vitória. Por outro lado o shiai moderno é regulamentado por regras para a preservação da segurança e das vidas dos combatentes, e sob essas regras a vitória e a derrota são determinadas.
Esses combates são na verdade esportes e, portanto, não são realmente shiai na sua verdadeira essência. Judô , por exemplo, foi desenvolvido para que os participantes levantem-se do tatame após serem derrubados por diversas vezes. Isso só é possível porque o Judô é um esporte, se ocorresse na realidade isso não aconteceria.
No passado, shiai significava que ou você tentasse matar ou ferir gravemente seu oponente, ou pelo menos incapacitá-lo para não conseguir reagir. Caso isso não ocorresse o confronto seria considerado inacabado sem um vencedor.
Budô, por sua natureza, não envolve combate competitivo. Caso você examine o ideograma chinês você encontrará o significado literal “o caminho de parar a arma”. Você abaixa sua arma ao mesmo tempo que seu inimigo abaixa a dele. Em outras palavras, derrotar pessoas não é o objetivo, ao invés disso, Budô é a conclusão e o aperfeiçoamento de si próprio. Assim dizia sempre Ueshiba Sensei.
Para manter nossa segurança e preservar nossas vidas temos que estabelecer regras.
Porém ao decidir vitória e derrota com essas regras nos coloca automaticamente no domínio dos esportes. Ueshiba Sensei foi inflexível por toda sua vida afirmando que Aikidô é um Budô e não um esporte.

O que Ueshiba Sensei ensinou
Ueshiba Sensei nunca ensinou em termos concretos enquanto ele pesava profundamente sobre esses princípios fundamentais do Budô. Quando estávamos treinando ele vinha e nos dizia “coloque alguma potência nisso”. Contudo ele mesmo demonstrava técnicas totalmente relaxado! Em outras palavras, o que ele dizia e o que fazia eram completamente diferentes.
Ele também dizia coisas fantásticas como , “Os deuses transformaram em fumaça e entraram no meu corpo”, e “Em todo o mundo, passado e presente, até dentre santos e homens sábios, nunca houve alguém capaz de entender o que digo, e até eu mesmo , apesar de estar dizendo, não entendo”. Como poderíamos fazer qualquer coisa com essas palavras!?
Sensei era sólido como uma rocha mas também muito relaxado, e essa combinação tornou-o extremamente forte. Ele dominou o relaxamento pela integração completa em seu corpo.
Se eu não tivesse a sorte de encontra Ueshiba Sensei, eu provavelmente viveria minha vida toda sem nunca saber sobre esse tipo de nível de relaxamento. Sou muito grato a ele por me mostrar isso.
Nunca prestei muita atenção naquilo que Sensei dizia e fazia. Você poderia perguntar-lhe todas questões que desejasse e nunca entender suas respostas. Ele iria mostrar somente e dizer algo como “É feito desse modo”.
Eventualmente também encontrei Tempu Nakamura Sensei, de quem escutei pela primeira vez as palavras, “A mente move o corpo”. Ao escutar isso eu pensei, “É isso! Isso é tudo o que há nisso! É tão simples !” Comecei a pesquisar mais intensamente sobre isso e descobri realmente que Ueshiba Sensei movia os corpos de seus oponentes pela condução de suas mentes (kokoro). E ele o fazia totalmente relaxado. Seria bom se ele simplesmente nos ensinasse isso, mas ele nunca o fez.
Depois de pensar sobre isso por um tempo eu entendi que para a mente conduzir o corpo, para que conduza a mente do oponente, você deve primeiro controlar sua própria mente. Comecei a estudar com grande entusiasmo em como fazer isso. Em outras palavras, descobri que unificando a mente e corpo é fundamental para sustentar o Aikidô.
Todavia como Sensei continuava dizendo coisas como “Fixe fortemente seu adversário” enquanto ensinava , as pessoas entendiam incorretamente o que ele estava querendo dizer. Quando ele faleceu , o tipo de Aikidô que ele queria passar para nós simplesmente desapareceu.
Os “Quatro Princípios Principais da Unificação da Mente e Corpo” que ensino atualmente são na verdade coisas que Ueshiba Sensei demonstrava com seu corpo. O Shin Shin Toitsu Aikidô que eu ensino é o Aikidô que Ueshiba Sensei queria ensinar.
Em um grande negócio do Aikidô de hoje em dia, a maneira corrompida com as quais as pessoas praticam permite que técnicas ineficazes sejam passadas como se fosse a coisa verdadeira. Esse Aikidô será somente criticado e ridicularizado. As pessoas tiram vantagem do fato de que não há adversários em Aikidô e se permitem um treinamento corrompido. O resultado disso é que se conduzem à satisfação própria, presunção, e arrogância. Com a morte de Ueshiba Sensei, o verdadeiro Ki e o princípio da unificação da mente e corpo desapareceram do Aikidô.

Princípios Guias para prática do AikidôAikidô recebe críticas como sendo uma farsa, especialmente quando pessoas fazem demonstrações usando seus próprios alunos, sem deixar qualquer outra pessoa tentar, isso é conseqüência da perda do princípio de Ki do Aikidô.
É um erro pensar que Aikidô é um caminho através do qual você encontra seu próprio Ki com o Ki dos outros. Ueshiba Sensei disse, “Cinco e cinco para dez, dois e oito para dez”. Em outras palavras, Aiki é a união do poder de dois com poder de oito para conseguir poder igual a dez. Ou unindo o poder de cinco com o poder de outros cinco para chegar a um poder igual a dez. Ueshiba Sensei disse que é um princípio essencial do Aikidô. Entretanto, eu sempre disse que Aikidô é unir seu Ki com o Ki do Céu e da Terra, ao invés de unir o Ki com o de outras pessoas. Existe somente um Céu e uma Terra e se unirmos nossos corpos com eles, todas pessoas se unirão a nós.
Nossas mentes e corpos foram dados a nós pelo Céu e Terra, e quando somos capazes de unificar nossas mentes com nossos corpos o poder do Céu e da Terra fica aparente. Essa energia é inerente em todas as pessoas. O que eu ensino é como lapidar e puxar adiante essa energia.
Aikidô proíbe competições porque ao permiti-las resultaria na perda real do significado do Budô. Por outro lado, quase todos possuem algum desejo para melhorar, assim como para competir; isso nos estimula a nos esforçar mais e dá esperanças para nos desenvolver.
Aikidô proíbe competições porque está preocupado com a vitória ou perda. Não haveria problema se a competição não visasse vencer ou perder, mas sim o quanto podemos unificar a mente que nos foi dada pelo Céu e Terra para descobrir nosso maior potencial como ser humano. Com isso em mente, eu estabeleci o que é chamado Competição Shin Shin Toitsu Aikidô, um evento não voltado para demonstrações do tipo circense ou outras curiosidades, mas sim uma oportunidade para testar essa unificação da mente e corpo que todos têm potencial para alcançar. Esse evento não é limitado para membros da Ki Society, qualquer um pode participar. Porém aqueles que incapazes de unificar mente e corpo não chegarão muito longe na competição. Eu ensinei unificação mente e corpo para estrelas de beisebol como Sadaharu Oh e lutador de Sumô Chiyonofuji. O fato é, não há nada a perder ao praticar, não há nenhum aspecto negativo. Outro dia eu estava até ensinando o time de beisebol Yomiuri Giants.
Tudo o que espero fazer é ensinar a unificação da mente e corpo. E quero que as pessoas em todos os lugares do mundo tenham a oportunidade de fazer de suas vidas, que avança sem perceberem, uma chance única para viver em sua plenitude através do espírito do Shin Shin Toitsu Aikidô.

Trad. Kendi Chikude

domingo, junho 04, 2006

Entrevista com Waka Sensei (Shinichi Tohei Sensei)

Entrevista com Waka Sensei (Shinichi Tohei Sensei)

William Reed conduziu a seguinte entrevista com Koichi Tohei sensei, com a participação de seu filho e sucessor Shinichi Tohei (Waka Sensei), em 19 de maio de 2000. A entrevista foi feita em japonês e traduzida para o inglês por William Reed, com a aprovação de Tohei Sensei. Tradução em português de Wilson Hideki Sagae.


- Waka Sensei, o que o senhor vê como sendo seus maiores desafios para levar o trabalho de seu pai adiante?
- Eu penso que o maior desafio é desenvolver uma forte iniciativa que falta a minha geração porque tivemos tudo entregue pronto para nós. É verdade que o caminho foi limpo, mas porque essa limpeza não foi feita por nós mesmos nós tendemos a perder a motivação necessária para manter-nos no caminho. Minha geração é a geração que irá carregar o Japão durante a primeira metade do século 21. Ainda que nós tenhamos crescidos preguiçosos e dependentes de máquinas e aparelhos eletrônicos. Nós temos muitas escolhas, mas pouco foco. Como meu pai, eu preciso encontrar meios de tornar as pessoas interessadas em treinar, ensina-los a unificar mente e corpo e encarar os desafios que virão. Nós temos um ditado: ''Fueki Ryuko,'' que significa que a vida não muda seus fundamentos mas sempre altera a superfície. Como lidamos com isso, para preservar as verdades fundamentais enquanto vivemos em um mundo mutável, esse é o mesmo desafio que enfrentamos quando ensinamos. Por causa dessas raízes da cultura japonesa, Ki-Aikido nos dá uma chance de redescobrir o significado de importantes costumes japoneses que estão sendo perdidos, e manter o que é importante ser preservado.

- O senhor diz que muitas palavras tradicionais e conceitos japoneses não fazem sentido para a nova geração. Linguagem e valores mudados, como fazer uma ponte entre as gerações ensinando Ki?
- Meu pai nasceu no Japão, em 1920. Era um mundo muito diferente do de hoje, e muitas das palavras e expressões usadas pela geração nascida antes da guerra não são ensinadas ou entendidas hoje. Nossa linguagem mesmo tem sido mudada. Muitos da nova geração nunca ouviram as idéias que vêm do chinês clássico, e isso algumas vezes é difícil ensinar. Por essa razão, eu estou trabalhando com meu pai para encontrar nos modos de expressar essas idéias, novas palavras e exemplos que façam sentido para minha geração, mas que ainda sejam consistentes com as verdades fundamentais.

- Os computadores têm ajudado a criar um boom nas artes marciais por duas razões: a rápida disseminação da informação e comunicação por meio da internet; e o que é chamado techno-stress, a necessidade de equilibrar mente e corpo. O que o senhor espera que os websites possam fazer para ajudar as pessoas e as artes marciais?
Aparelhos eletrônicos têm feito nossa vida mais conveniente, mas também nos trouxeram problemas de sedentarismo como dependência das conveniências. Ki-Aikido pode ajudar-nos a restaurar o equilíbrio entre mente e corpo, e manter o bem estar e saúde por toda a vida. A internet faz isso possível para nós por comunicar instantaneamente com as pessoas de todo o mundo. Essa é uma coisa boa, e nós esperamos que isso possa levar os benefícios do Ki-Aikido para pessoas que de outro modo nunca teriam sabido de sua existência. A Ki Society ainda está desenvolvendo informações para nosso website em inglês, mas em adição aos livros de Tohei sensei, muitos dojos membros da Ki Society por todo o mundo têm websites em inglês (e outras línguas) onde as pessoas podem encontrar mais informações.